A prática da aromaterapia, que consiste no tratamento de várias doenças através de extractos de plantas aromáticas, conhecidos como óleos essenciais, tem origens antigas que remontam à história da fitoterapia. Esta disciplina surgiu simultaneamente em várias regiões do mundo, nomeadamente na China, na Índia, na Mesopotâmia e nos arredores do Mediterrâneo. Desde que os seres humanos começaram a explorar o potencial das plantas, procuraram formas de extrair os seus componentes benéficos. Diz-se que as técnicas de destilação e extração foram descritas na Índia e na China, onde os chineses escreveram mesmo uma coleção de receitas baseadas em óleos essenciais chamada "Pen tsao" (ou Shennong Bencao Jing).
No antigo Egipto, as plantas aromáticas eram utilizadas para purificar as casas, fazer cosméticos e embalsamar os mortos. Os egípcios utilizavam um método rudimentar de destilação em que as plantas eram misturadas com água a ferver e depois o vapor impregnava os tecidos. Esta técnica estava também associada a rituais religiosos destinados a purificar o ar e a oferecer óleos essenciais aos deuses. Os sacerdotes egípcios foram considerados os primeiros perfumistas do mundo, preparando misturas de plantas aromáticas chamadas kyphi. As pessoas ricas utilizavam estes óleos essenciais para embalsamar os seus defuntos, o que ajudou a preservar as múmias descobertas séculos mais tarde.
Mais tarde, na Provença do século XVI, os artesãos locais começaram a produzir óleos essenciais a partir de plantas como o zimbro, a alfazema e o alecrim. No entanto, com o progresso da medicina ocidental e o desenvolvimento de produtos sintéticos através da química, a utilização de óleos essenciais ficou um pouco esquecida.
Só no século XX é que o termo "aromaterapia" foi utilizado pela primeira vez. A disciplina foi relançada pelo químico francês René-Maurice Gattefossé, que melhorou a prática ao utilizá-la para tratar um ferimento que tinha sofrido. Depois de ter queimado a mão num acidente de laboratório, Gattefossé mergulhou a mão em óleo essencial de lavanda, conhecido pelas suas propriedades anti-sépticas e cicatrizantes. Segundo a lenda, a sua mão sarou muito rapidamente, despertando um interesse renovado pelos óleos essenciais para fins medicinais.
Atribui-se a Avicena, um filósofo e médico persa do século X, a criação do alambique no ano 1000, uma invenção que tornou possível a extração de extractos aromáticos de plantas. Diz-se que foi o primeiro a extrair um óleo essencial puro, nomeadamente o óleo de rosas. Posteriormente, outros investigadores, como Jean Valnet e Pierre Franchomme, contribuíram para o desenvolvimento da aromaterapia, estudando e divulgando as propriedades dos óleos essenciais. Atualmente, a aromaterapia é um sucesso crescente em França e noutros países, com milhões de frascos vendidos todos os anos, e é praticada em muitos países, incluindo o Brasil e a Índia.
Os princípios fundamentais da aromaterapia baseiam-se em vários conceitos e métodos de utilização essenciais.
Destilação
A aromaterapia baseia-se largamente no processo de destilação. Durante este processo, a planta aromática é aquecida, transformando a água de uma cuba em vapor. Este vapor passa depois através da planta, libertando as moléculas aromáticas. O vapor é depois arrefecido numa serpentina, regressando ao estado líquido num vaso florentino. Nesta fase, o óleo essencial, que é mais leve do que a água, flutua à superfície e separa-se da água. Diferentes partes da planta, como folhas, flores, caules, cascas, espinhos ou madeira, podem ser destiladas para obter óleos essenciais com diferentes propriedades. Por exemplo, para obter óleos essenciais de flores secas ou frescas, estas devem ser colocadas numa cuba antes da destilação. Os óleos essenciais assim obtidos são acondicionados em frascos escuros, para os proteger da luz, e conservam as suas propriedades durante cerca de cinco anos.
Hidrolatos
Durante o processo de destilação, a água aquecida na cuba que contém a planta transforma-se em vapor de água, que contém as moléculas aromáticas da planta. Depois de arrefecer e voltar ao estado líquido, este resíduo é recolhido num outro recipiente, chamado vaso florentino. Este extrato, constituído pela água utilizada na destilação e contendo as moléculas aromáticas e os oligoelementos da planta, é designado por "hidrolato". Ao contrário dos óleos essenciais, os hidrolatos contêm menos moléculas activas (cerca de 0,1%) e são igualmente ricos em minerais e oligoelementos. Os hidrolatos são recomendados pela sua suavidade e são adequados para uma vasta gama de pessoas, desde crianças a idosos. No entanto, é aconselhável consultar um profissional, pelo menos no início da sua utilização.
Diferenças entre hidrolatos e óleos essenciais
Os hidrolatos e os óleos essenciais diferem na sua composição e propriedades. Os hidrolatos contêm moléculas activas e perfumadas, embora sejam menos concentrados do que os óleos essenciais (0,1% contra 100%). Além disso, ao contrário dos óleos essenciais, os hidrolatos contêm minerais e oligoelementos. Os hidrolatos são utilizados numa variedade de aplicações, incluindo aromaterapia, culinária pelo seu sabor, como sprays ou para fins terapêuticos, tanto internamente (não diluídos ou diluídos em água morna, como gargarejo) como externamente (aplicados na pele).
Contra-indicações e indicações comuns
É importante notar que alguns hidrolatos não são adequados para toda a gente. Por exemplo, alguns hidrolatos não são recomendados para crianças dos 0 aos 3 anos, incluindo orégãos, segurelha, yarrow, alecrim-cânfora, hissopo e ledónio.A canela, o gengibre, os orégãos, a segurelha, o tomilho, o timol e o incenso também podem ser tomados por via oral. Além disso, o óleo de salva deve ser evitado por pessoas que tenham tido ou sofram de cancro dependente de hormonas. Os hidrolatos são frequentemente utilizados pelas suas propriedades calmantes, anti-stress, anti-infecciosas, anti-reumáticas e anti-fadiga para a pele e os olhos, etc.
Precauções de utilização e de conservação
Os hidrolatos podem ser utilizados em maiores quantidades do que os óleos essenciais, mas recomenda-se vivamente a consulta de um profissional ou a consulta de literatura séria para uma utilização adequada. É preferível manter os frascos de hidrolatos no frigorífico para preservar a sua frescura e propriedades.
Vários métodos de utilização
1. Viaoral : Uma a três gotas de óleo essencial podem ser tomadas numa colher de chá de mel ou de azeite, ou num pequeno torrão de açúcar ou numa pastilha neutra (disponível nas farmácias). É aconselhável evitar a ingestão do óleo essencial puro ou em água.
2. Uso externo : Não devem ser utilizadas mais de seis gotas de óleo essencial misturadas com duas colheres de chá de óleo vegetal (como o óleo de amêndoas doces) para uma massagem.
3. Inalação : Pode inalar algumas gotas não diluídas num lenço ou inalar diretamente o frasco durante alguns segundos.
4. No banho : Algumas gotas podem ser adicionadas a uma colher de sopa de uma base de banho (como labrafil ou leite vegetal).
5. Num difusor : Pode colocar algumas gotas num pires perto de uma fonte de calor ou utilizar cerca de dez gotas num difusor.
A automedicação é um princípio fundamental da aromaterapia e é parte integrante do prazer dos seus utilizadores. Existem muitos guias práticos bem documentados para o ajudar a orientar-se e a seguir as precauções de utilização. No entanto, é aconselhável aconselhar-se com um profissional, como um farmacêutico ou um aromaterapeuta, antes de se aventurar. Quando estiver familiarizado com esta disciplina, pode consultar os guias práticos.
A sinergia
Os aromaterapeutas recomendam frequentemente a utilização de vários óleos essenciais em simultâneo, pois podem potenciar os seus efeitos. Por exemplo, em caso de retenção de líquidos, o Pistachio Mastic e o Helichrysum italiano são muitas vezes combinados pelas suas propriedades drenantes. No entanto, é essencial consultar um profissional em vez de criar uma mistura sozinho, o que pode ser perigoso.
Comprar os óleos essenciais correctos
Se optar por comprar óleos essenciais, é preferível optar pela qualidade, mesmo que por vezes isso possa custar um pouco mais. Os óleos essenciais biológicos, com o rótulo AB (Agriculture Biologique), são recomendados, pois garantem a ausência de OGM e de pesticidas. Os rótulos HECT (Hemotyped Essential Oil) e HEBBD (Botanically and Biochemically Defined Essential Oil) são também garantias de qualidade. É importante verificar se o nome latino da planta é indicado no rótulo para ter a certeza de que está a comprar a variedade recomendada. Por exemplo, o Ocimum basilicum (manjericão exótico ou tropical) e o Ocimum sanctum (manjericão sagrado) têm propriedades diferentes. A origem da produção e a parte da planta destilada também devem constar do rótulo.
Óleos essenciais de venda livre e contra-indicações
Alguns óleos essenciais só podem ser vendidos por farmacêuticos devido à sua toxicidade potencial. A Agência Nacional para a Segurança dos Medicamentos (ANSM) recorda que estes óleos essenciais podem ser tóxicos, irritantes, fototóxicos ou cancerígenos. Os quinze óleos essenciais sujeitos a esta regulamentação incluem o absinto, o absinto, a artemísia comum, a artemísia branca, a artemísia arborescente, o cedro-do-Canadá, a salva, a tansy, o sassafrás (cancerígeno), a sabina, a arruda, o pé-de-galinha e a mostarda jonciforme. Todos os outros óleos essenciais estão disponíveis sem receita médica, mas é importante notar que, de acordo com a ANSM, não devem reivindicar indicações terapêuticas se a sua composição não for garantida quanto ao seu potencial efeito terapêutico.
Indicações comuns
As aplicações dos óleos essenciais são muito variadas, desde o tratamento de problemas dermatológicos (acne, herpes labial, cicatrizes, etc.) até aos problemas digestivos (inchaço, obstipação, etc.), passando pelos problemas ORL (constipações, tosse, bronquite, etc.). São igualmente utilizadas para aliviar a fadiga, o stress, as insónias e as dores articulares.
Precauções a ter em conta
É essencial respeitar as contra-indicações associadas à utilização dos óleos essenciais, nomeadamente no caso das mulheres grávidas, das pessoas que sofrem de cancro dependente de hormonas, de hipertensão arterial ou de outras doenças específicas. Os óleos essenciais devem ser utilizados com precaução e, em caso de dúvida, é preferível aconselhar-se junto de um farmacêutico ou de um aromaterapeuta.
Actualizado em 24 setembro 2023 a 12:00